Não. Não quero acreditar que a partir de um ponto da vida tudo será sério: desenvolver tudo com seriedade; tomar decisões sérias; ser séria.
Não vai dar.
Desculpe a decepção dos que acreditaram que isso iria me acontecer, mas eu não quero assim.
Pessoas que seguem as coisas à risca são tão cansativazzzZZZZZzZZzzzzzZZZZz
Eu não consigo entender como é que tem gente que não acredita em um final feliz. Meu Deus! Final feliz é a coisa mais linda que se possa ter na vida.
Eu acredito tanto em final feliz que já os criei para todos os homens fictícios da minha vida.
E são histórias secretas, até para evitar comentários do tipo: "Isso nunca vai acontecer", "esse cara não existe", "a vida é dura", "acorda!".
Oi? Eu me contorço no sofá quase mordendo o edredon quando o Ashton Kutcher beija Cameron Diaz no final de 'Jogo de Amor em Las Vegas', é claro que eu invento histórias. E me larga! Não adianta dizer que é só um filme porque isso eu sei, mas já me bastaram 4 anos de faculdade e 8/9 horas diárias vendo tudo de mentirinha atrás das câmeras para eu querer acreditar num filme fraco e popular.
Eu PRECISO ter minha ficção pessoal paralela a tudo que obrigatoriamente tenho que lidar com seriedade.
Preciso brigar com o amor da minha vida de mentirinha para fazermos as pazes meia hora depois quando ele traz chocolate quente e diz que eu fico linda com cara de brava.
PRECISO!
Eu preciso fugir da parede dura do meu quarto e da cama vazia que eu deito todos os dias.
ME DEIXA!
Me deixa imaginar o café da manhã na cama e os lírios em cima da mesa da sala de jantar com um bilhete bobo e bonito.
Me deixa brincar com meus problemas de mentira que são muito mais engraçados do que os de verdade que me ocupam tanto tempo e requer seriedade.
Eu só consigo enfrentar as coisas tendo minha vida paralela. E mesmo quando eu tiver alguém que compartilhe da minha loucura, ainda assim, vou criar minhas muitas histórias.
quinta-feira, 24 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
Fabrício Carpinejar
Um moderno e certeiro escritor que descobri há um bom tempo.
Hoje abro espaço para um texto seu cujo assunto sempre está nas rodas de conversas femininas.
De pé, aplaudo.
Boa leitura!
O AMOR NO COLO
A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.
Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.
Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.
Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.
Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.
Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.
Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"
Haverá a indignação como última esperança.
Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.
Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.
Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.
Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.
Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.
Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.
Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.
Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.
Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.
O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.
Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz. Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.
Hoje abro espaço para um texto seu cujo assunto sempre está nas rodas de conversas femininas.
De pé, aplaudo.
Boa leitura!
O AMOR NO COLO
A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.
Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.
Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.
Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.
Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.
Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.
Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"
Haverá a indignação como última esperança.
Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.
Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.
Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.
Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.
Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.
Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.
Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.
Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.
Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.
O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.
Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz. Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.
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