quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre as cartas.

Quando eu tinha 14 anos, eu tinha um amor.
Platônico, óbvio, mas o tinha.
Naquela época, eu era bem mais prática: 6 meses. Se nada acontecer, apagar números de telefone, registros, poeminhas e se necessário, não sair de casa.

Quando eu tinha 6/7 anos, aprendi a ler e escrever.
Me apaixonei pela escrita.
Era a melhor da sala em redação, sempre.
Com o passar do tempo, as redações deram espaços para cartas, tentativas de poemas e rabiscos românticos.

Um dia, minha prima fez meu mapa numerológico. Traçou minha personalidade, minhas fases entre outras coisas que já não me recordo. Porém, houve uma revelação que jamais esqueci. Então ela disse: - Paty, você é uma pessoa muito orgulhosa, uma pessoa que começa a fazer uma coisa, mas não termina por orgulho. Por exemplo: Você escreve uma carta, para alguém, mas você não a entrega porque na sua cabeça, isso te faz menor. Este é um defeito que você precisa consertar, porque ele prejudicará você futuramente.

Meu Deus! Como ela sabia da carta que estava embaixo das gavetas, no forro do guarda-roupas?

Na verdade ela não sabia. Nem tinha como. Na época, ela era uma prima distante, até por conta da diferença gritante de idade entre nós.

Então, refletindo sobre, coloquei a carta no correio. O destino era a rua de cima da minha casa, mas dramática que sempre fui, achei mais impactante enviar pelo correio.

Poucos anos depois, no meio de uma bebedeira, descobri através de um dos amigos que todos sabiam da tal carta. Fingi que não liguei, mas fiquei putíssima.
Hoje vejo que é normal, oras. Meninos com aquela idade faziam isso mesmo, ou não.

Depois da internet, perdeu-se o costume de escrever cartas. Mas eu ainda as escrevo. Tenho imensa dificuldade de escrever diretamente no pc. Tanto que é um sacrifício passar roteiros a limpo, após tê-los escrito inteiros à punho.
E-mail é impessoal, é último caso, são frases curtas, coisa rápidas, ou para desabafos, na hora da raiva.

Cartas são automaticamente poéticas. As curvas das letras sensualizam o conteúdo daquela.
Cartas eternizam momentos, sorrisos, abraços e beijos. Não é aquela coisa dura, que arde a vista. Você consegue ler uma carta se a energia acaba, e é incrível ler à luz de velas.

Eu ainda escrevo cartas, mas agora sempre espero o momento certo para enviá-las.
Às vezes, o destino se encarrega de desviá-las naturalmente, e assim elas acabam picadas na privada do meu banheiro.

Um comentário:

Ale Danyluk disse...

Eu também gosto de cartas e assim como você, elas raramente seguem seu destinatário....Por "n"motivos. Acabei descobrindo que as cartas para mim são uma válvula de escape e que muitas vezes elas acabam cumprindo sua função logo após eu acabar de escrewvê-las.

Gosto muito da sua forma de dizer as coisas.
Beijo
Ale