quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quando minha alma vaga por aí...

Ela pegou o trem sem destino certo.
Não sabe bem porque entrou naquele vagão, mas adentrou com convicção naquela lata gigante.
Desceu na última parada, foi obrigada.
Percebeu que não mais podia fugir daquilo que mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar.
Não teve coragem de ir àquela rua tão costumeira, tocar a campainha já tantas vezes tocada e olhar novamente
para o jardim.
Resolveu ir para a esquerda, em direção à praça.
Sentou-se num banco surrado, e em seguida contou com a compania de um senhor que jamais havia visto.
Ela chorava.
E ele sem perguntar nada disse:
- Não chore por achar que não deu certo, pense que durou o tempo suficiente.
Ela levantou a cabeça um pouco arisca, e voltou-se à ele:
- Se não sabe do que se trata, não interfira com bobagens.
- Não preciso que me diga, eu conheço cada choro e sei que choras por amor à alguém.
- E porque o senhor acha que eu choro por amor.
- Mas eu não disse que acho, disse que choras.
- E porque a convicção?
- Menina, eu apenas sei. Por chorar tanto, sei o motivo do choro de cada pessoa.
- Mas o senhor não me conhece.
- E não é necessário conhecer. Somos diferentes, mas todos nós possuímos sentimentos.
- O senhor já sofreu muito por amor?
- Ninguém sofre por amor. As pessoas sofrem pela falta dele.
- ...
- O amor tráz outros tipos de reações. O amor não faz alguém chorar.
- Então porque as pessoas choram?
- Porque não sabem amar.
- Mas o senhor disse que já chorou muito e já deve ter chorado por amor.
- Sim, eu também não sabia amar. E durante toda a minha vida encontrei pessoas que mesmo com o passar do tempo,
não aprenderam.
- E o senhor acredita no amor?
- Claro!
- Como, se sofreu a vida toda por encontrar pessoas que te fizeram de alguma forma sofrer?
- É exatamente por isso que eu nunca desisti. Eu já amei de forma errada e já fui amado sem reconhecer. O amor
existe, e nós o sentimos, porém, esperamos algo que suplanta a capacidade de um ser humano.
- Eu não quero acreditar mais no amor.
- Mas isso não é uma questão de escolha menina, é questão de tempo.
- Tempo é tudo que eu não quero ter.
- O tempo é tudo que você precisa.

Ela seguiu para a direita para fazer o caminho de volta para casa. Entrou no trem e escreveu no celular:
"Eu poderia listar o quanto dói não te ter comigo, mas agradeço os mil motivos que me deu para eu desacreditar
no amor porque foram eles que me fizeram entender que fui eu que ainda não o senti. Adeus".

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