segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A morte não me cai bem.

Eu nunca tive uma boa relação com a morte. Nunca me relacionei bem com isso e com o que envolve a tal.
Lembro da primeira vez que tive um contato que me marcou.
Estava no dentista, o que era muito comum, por ter usado aparelho por aproximadamente 10 anos. Esperava minha vez quando resolvi pegar uma revista, Veja, eu acho.
Lá, tinha uma reportagem sobre 3 meninos que morreram numa casa de veraneio em Mongaguá. Morreram à facadas, pauladas, enforcados com o fio do chuveiro.
Li a reportagem toda (eu e essa minha atração por dramas) e segurei o choro no final.
Era 01 de junho, o ano não me recordo bem, mas lembro que tinha uns 13/14 anos.
A história não saiu da minha cabeça, os rostos e a imagem que eu criei de como tudo aconteceu também não.
Cheguei em casa, liguei a TV. Passava um especial da Alanis Morissette, pois era seu aniversário, no extinto Supernova da MTV.
Assim que liguei começou o clipe de That I Would Be Good.
Pronto. Nunca mais consegui ouvir essa música em paz. Chorei uma tarde inteira por conta daquela história, daquele caso que eu não tinha ouvido falar, que eu não conhecia ninguém e não tinha nem a idade dos envolvidos. Nada em comum. Uma dor.
E agora, ao escrever lembro de tudo outra vez.

Daí começa uma sucessão de casos de mortes, ora próximas, ora desconhecidas. Todas com incrível poder de me tirar a paz.

Eu penso nessas vidas que terminam, em quantas coisas deixaram para depois, quantas mudanças queriam ter feito e não houve tempo, ou talvez, não houve coragem e o tempo se esgotou.
Eu penso nos que ficaram, no fato de saber que quanto mais o tempo passa, mais forte a saudade se torna. É você olhar pra trás e ver quantas coisas aconteceram sem a presença daquela pessoa.

A morte não me cai bem.

Uma vez senti que ia morrer, foi um sufoco tremendo. Mandei e-mail para as pessoas que eu mais me importava naquele momento e disse o quanto eu as admirava e quanto elas eram importantes para mim. Queria que elas soubessem, caso eu morresse, que elas eram serem decisivos na minha vida.
Não morri. Que bom! Mas naquele momento pensei em tudo que eu estaria deixando interminado, em tudo que eu não fiz por orgulho, em tudo que eu deixei de fazer por preguiça, em todas as visitas que eu não havia feito.
Me deu muito medo.

Esse fato deixou sequelas. Me tornei mais impulsiva, mais ansiosa. Tudo é agora, e pra já. Negar uma noite? Jamais! Ver os amigos? Sempre! Estar com a família? Aqueles que merecem, sim, e sempre que der. Mas confesso que neste quesito ainda deixo a desejar.

É engraçado que soltamos frases do tipo "Ah, a gente não sabe se vai morrer amanhã..." mas nunca acreditamos nisso. Nunca pensamos que sim, podemos mesmo morrer amanhã, ou morrer daqui 5 minutos, ou morrer agora.

Eu peço pra viver bastante todos os dias, e que minha mãe, minha irmã e minha família também vivam. Lembro que sempre nas orações antes de dormir, pedia: "que meu pai e minha mãe vivam bastante e eu e minha irmã também".
O meu bastante não foi o mesmo bastante para Deus. Ele nos faz viver o suficiente.
Mas tem que ser uma pessoa muito evoluida para aceitar e viver isso.

Eu ainda tenho muito a aprender.

Um comentário:

drica disse...

Senti uma angústia presa na garganta com esse texto.